10 Dicas de Construção para Lidar com o Aquecimento Global
“Prevenção” e “resiliência” são as palavras-chave quando tratamos das novas realidades causadas pelo aquecimento global. De repente, algumas das práticas de construção que as pessoas já utilizam há vários séculos já não são suficientes para garantir a segurança das moradias e o uso otimizado de recursos. Há também os casos nos quais precisamos resgatar o conhecimento utilizado em outros tempos ou em outros lugares para nos adequar a esse planeta em transformação.
As dicas de resiliência climática abaixo servem tanto para construções privadas quanto para o estabelecimento das políticas públicas que moldam as nossas cidades. Com eventos climáticos extremos se tornando cada vez mais frequentes, não adianta só tomar as medidas preventivas depois que a chuva, o calor, a seca ou o frio já chegaram.
Note que, além dos investimentos públicos, essas medidas também oferecem oportunidades de negócios para quem já atua no setor.
1. Evite construir em locais de risco
Uma vez que as chuvas se tornam cada vez mais extremas e imprevisíveis, a construção à beira de grandes corpos de água (rios, lagos, oceano, etc.) deve ser desencorajada. É importante verificar se o seu terreno está acima do nível que seria atingido em caso de cheia, pois essa pode ser a diferença entre uma chuva inconveniente e uma chuva que coloque em risco os seus pertences e a sua vida.
Mesmo longe de grandes corpos de água, é importante verificar a inclinação do terreno e a possibilidade de deslizamentos de terra. Por exemplo, se o seu terreno está em um dos pontos mais baixos da região, é bem provável que ele esteja no caminho de escoamento da água da chuva.
2. Leve em conta a ventilação e a iluminação naturais
Além das chuvas torrenciais, outro fator de preocupação é o calor extremo. Na hora de construir, é importante verificar qual será a incidência da luz do sol sobre as paredes e o teto do imóvel. Além disso, é possível posicionar portas e janelas de uma forma que faça proveito da brisa e da iluminação naturais.
Pintar o telhado com cal branco, que ajudará a refletir o calor ao invés de absorvê-lo, é outra prática comum. Uma prática mais recente (e, possivelmente, mais cara) é a construção de uma camada extra de telhado, como pode ser vista na foto ao lado.
Essas medidas ajudam a economizar energia elétrica no uso de lâmpadas e de aparelhos de ar condicionado, que são fatores que podem piorar o aquecimento global. No vídeo abaixo, entenda como o surgimento do ar condicionado ajudou a encorajar a construção de prédios que são “armadilhas de calor”.
3. Invista na cobertura verde da sua construção
Uma cobertura verde vale não apenas para os telhados das casas e prédios mas também para as cidades em geral. Uma boa arborização das ruas e dos entornos das moradias podem ajudar a dissipar o calor e a distribuir a umidade. Além disso, a vegetação contribui para a ideia de cidades esponja.
No entanto, é preciso estar atento ao tipo de vegetação que será utilizado em cada caso. Por exemplo, árvores de grande porte podem se tornar um problema em locais que sofrem com fortes ventanias.
4. Construa abrigos permanentes ou temporários
Em muitas situações, não será viável simplesmente realocar pessoas para áreas de baixo risco. Nesses casos, é preciso avaliar a possibilidade da construção de abrigos de emergência. Em algumas pequenas comunidades da Ásia, já existem prédios que servem tanto como centro comunitário quanto como abrigo em caso de enchentes. Obviamente, a estratégia precisa fazer sentido dada a dimensão da população local.
Em construções privadas, é possível construir andares superiores que servem como abrigo contra enchentes. No entanto, é necessário garantir que os andares inferiores, que serão inundados, estão preparados para lidar com os riscos e desgastes causados pela água.
5. Utilize materiais resistentes a inundações
Algumas das dicas de resiliência desse artigo incluem: aplicar revestimentos, selantes e chapas impermeáveis a paredes e coberturas; elevar ou proteger equipamentos com componentes mecânicos, hidráulicos ou elétricos; e instalar válvulas de retenção para evitar o retorno de esgoto para dentro de casa.
Ou seja, se o seu imóvel está em uma área de risco, é importante que ele esteja preparado para lidar com grandes quantidades de água.
6. Direcione as águas das chuvas
Porém, apenas construir casas e prédios resistentes não é o suficiente. É preciso garantir que a água será escoada para outros lugares ou absorvida pelo solo, o que nos leva de volta para o conceito de cidades esponja. Essa abordagem encoraja o uso de vegetação e de concreto permeável para evitar que a água se acumule nas ruas das cidades. Veja mais detalhes no vídeo abaixo.
7. Se possível, construa barreiras para a água
Muros impermeáveis são caros e precisam de manutenção, mas podem ser uma opção se não for possível simplesmente mudar uma comunidade de lugar. É claro que eles precisam ser planejados de forma estratégica, para que realmente evitem a passagem da água ao invés de apenas alterar o fluxo da enchente.
Mesmo quando não são altos o suficiente, esses muros podem ajudar a população a ganhar tempo durante uma evacuação emergencial.
8. Tenha planos de ação para a emergência e para a limpeza/reconstrução
Além das construções estarem preparadas, as pessoas precisam saber o que fazer em casos de emergência. Os procedimentos devem estar bem definidos e é importante que eles sejam revisados todos os anos. Nos momentos emergenciais, pode ser muito difícil tomar decisões improvisadas, o que aumenta a importância de se ter um procedimento padrão que pode ser apenas seguido.
Também é importante preparar as ferramentas adequadas para a limpeza e para o reestabelecimento da normalidade. Em alguns casos, é válido ter bombas de água com baterias autônomas, que podem adiantar a limpeza de locais inundados mesmo antes do fornecimento de energia elétrica ser normalizado.
9. Leve em conta outras ameaças, como frio extremo e a seca
A maior parte das dicas até aqui foi orientada a inundações e ao calor extremo. Porém, o frio extremo e as secas prolongadas também podem se tornar comuns em determinadas partes do Brasil e do mundo. Nesses casos, é importante pesquisar como lidar com essas ameaças na sua região e usar a imaginação e a criatividade na hora de pensar em soluções.
No caso de secas, há vários vídeos no YouTube que mostram como construir sistemas de armazenamento e reaproveitamento das águas das chuvas. Eles são importantes não apenas durante as secas, mas também para economizar a água acumulada nos reservatórios públicos durante as temporadas de chuva. Veja um exemplo abaixo.
10. Preserve recursos e controle as emissões de carbono
Apesar das piores previsões sobre o aquecimento global já estarem se concretizando, ainda é possível evitar que a situação saia ainda mais de controle nas próximas décadas. Projetar casas e outros prédios que utilizem os recursos naturais de forma otimizada e evitem ao máximo novas emissões de carbono na atmosfera deveriam ser prioridades para todas as organizações públicas e privadas.
Ser resiliente pode não ser o suficiente nas próximas décadas. Isso exige que nós comecemos a trabalhar para reverter essa situação e para ajudar o planeta Terra a voltar para o ciclo climático que permitiu o surgimentos das nossas civilizações.
Veja também:
- Brasil 2040: Resumo Executivo
- Como combater inundações através da arquitetura? 9 Soluções práticas
- Mudanças Climáticas e a Arquitetura
- A Practical Guide to Climate-resilient Buildings & Communities
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