Crítica – Love Lies Bleeding: O Amor Sangra

Love Lies Bleeding, EUA, 2024



Trailer · Letterboxd · IMDB · RottenTomatoes

★★★★☆


É possível imaginar infinitas influências para a trama e para a estética de Love Lies Bleeding: O Amor Sangra, mas o mais importante é a originalidade que a diretora Rose Glass traz para a história. As linhas entre certo e errado e entre realidade e fantasia ficam incertas nessa elétrica trama sobre paixão e violência, na qual todos os relacionamentos são tóxicos e todas as decisões são de qualidade extremamente questionável.

love lies bleeding o amor sangra

Ainda nos primeiros minutos do filme, a gerente de academia Lou (Kristen Stewart) se apaixona e começa um tórrido caso de amor com a andarilha e fisiculturista Jackie (Katy O’Brian), oferecendo-lhe tanto anabolizantes quanto um local para ficar. Porém, apesar da impulsividade das duas ficar clara, ambas escondem seus lados mais tóxicos e violentos, que virão à tona de formas surpreendentes ao longo da narrativa.

Os elementos que abalam o erótico equilíbrio entre as duas vêm dos personagens masculinos da história. Beth (Jena Malone), irmã de Lou, se encontra em um relacionamento abusivo com seu marido JJ (Dave Franco). Apesar dos abusos, o pai de Lou e Beth, também conhecido como Lou (Ed Harris), prefere não interferir no casamento da filha. Ele é um contrabandista de armas que parece estar mais preocupado com as investigações do FBI sobre a sua operação.

Esse volátil cenário dispara uma sequência de acontecimentos que torna Love Lies Bleeding tão divertido quanto imprevisível. Enquanto a história e os desenvolvimentos lembram filmes menores como Pequenos Delitos e Shimmer Lake, a abordagem surrealista da diretora chega a lembrar a intensidade de Titane combinada com alguns toques de Cisne Negro.

Já o lado mais romântico do intenso sonho de neon entre Lou e Jackie chega a lembrar a intimidade e a vulnerabilidade de filmes como Um Quarto em Roma e A Criada. As duas personagens parecem se completar, apesar das atitudes tomadas por elas criarem desafios e transformarem o sonho em pesadelo. Se elas quiserem ficar juntas, um outro tipo de equilíbrio precisará ser encontrado.

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Conforme a situação sai de controle, a trama de Love Lies Bleeding adota tons hitchcockianos, apesar de Glass jamais se delongar no suspense e nos momentos de tensão. O mais importante aqui é que as decisões tomadas pelas personagens vão criando situações cada vez mais insustentáveis, exigindo cada vez mais improvisações por parte delas.

As ações de Jackie são seriamente influenciadas pelos anabolizantes que ela começou a tomar depois de conhecer Lou. Com atitudes cada vez mais agressivas e imprevisíveis, ela chega a ficar desconectada da realidade durante parte da projeção, entrando em negação em relação a suas ações e às consequências delas.

Porém, o que a trama de Love Lies Bleeding tenta realçar é que o principal “anabolizante” tomado por Jackie é o amor que ela sente por Lou. Esse é o “hormônio de crescimento” que realmente a torna “gigante”. Algo semelhante também pode ser dito sobre Lou, já que as “demonstrações de amor” feitas por ela também deixam mortos e feridos.

Ao fim, Jackie e Lou estão tentando escapar de seus destinos e das formas com as quais as escolhas das outras pessoas afetam suas vidas. Porém, elas substituem esses elementos com as escolhas questionáveis que elas mesmas fazem. Dessa forma, Love Lies Bleeding: O Amor Sangra mergulha nas fantasias de amor e violência de suas protagonistas, que precisam acreditar que nada do elas fazem está errado e que tudo vai dar certo no final.

O resultado de tudo isso é uma obra pulp com emoções intensas e uma estética oitentista que pode ser considerada simultaneamente cafona e nostálgica. O que realmente garante que a trama funcione de forma satisfatória são as marcantes atuação de Kristen Stewart e Katy O’Brian, que jamais permitem que o espectador duvide da seriedade, da ingenuidade e do comprometimento dessas personagens em meio a mullets, decisões ruins e corpos sarados.