Crítica: Invencível – 2ª Temporada
Invincible – Season 2, EUA, 2023-2024
Prime Video · Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes
★★★★☆
Mesmo com uma estratégia de lançamento que prejudica a experiência como um todo, Invencível voltou com força total. Com quatro episódios lançados em novembro de 2023 e mais quatro lançados a partir da metade de março de 2024, a segunda temporada nos deixa com a impressão de ter sido duas mini-temporadas. Felizmente, os arcos dramáticos de cada episódio e o arco dramático principal da série garantem que essa interrupção não faça muito estrago no conjunto da obra.
O que diferencia Invencível de outras histórias do gênero é que essa não é apenas a jornada de Mark Grayson/Invencível (Steven Yeun) para se tornar um grande super-herói. A trama aborda a evolução do protagonista como, antes de mais nada, o processo de amadurecimento de um ser humano como qualquer outro. A maturidade de Mark vai sendo alcançada a duras penas, com acontecimentos que fogem de seu controle e com erros que ele mesmo comete quando está sob pressão.
A trama tenta realçar que o que torna o protagonista “invencível” não são seus superpoderes (até porque ele já foi derrotado em batalha várias vezes), mas sim a sua resiliência diante das dificuldades e sua insistência em manter sua integridade. Além de não se considerar superior ou mais importante que as outras pessoas, ele não tenta se impor por meio do uso da violência, o que seria a saída mais fácil (e medíocre) para alguém com seus poderes.
Indo além, ele também não tenta se esquivar do peso da responsabilidade por seus atos, chegando a questionar sua própria competência como super-herói. Uma pessoa menos madura sempre tentaria resolver os problemas por meio da aplicação de algum tipo de violência e, posteriormente, defenderia esse método como o único possível. Invencível, por sua vez, sempre tenta encontrar alternativas razoáveis e inteligentes antes de recorrer a seus poderes.
Diante dos problemas que ele precisa enfrentar por causa de seu pai, Mark poderia se entregar à frustração e ao ressentimento e se tornar um vilão tão frio e amargo quanto os viltrumitas que ameaçam invadir o planeta Terra. Nessa temporada, isso é realçado pelos “Marks” de universos alternativos mostrados no primeiro e no último episódio. Provavelmente, as diferenças entre eles e o Mark do universo principal de Invencível são as escolhas que eles fazem, e não as opções que eles possuem.
Mas a jornada de amadurecimento de Mark não é a única explorada por Invencível. Os jovens (e até os mais velhos) heróis dos Guardiões Globais passam por uma nova e dolorosa fase de evolução. Ao que parece, a tendência geral da série é mostrar os personagens sofrendo perdas e passando por atribulações que irão moldar super-heróis e seres humanos que realmente representam o que há de mais nobre e resiliente na humanidade. Isso vale inclusive para personagens como Debbie (Sandra Oh) e Donald (Chris Diamantopoulos).
A trama ainda precisa ir mais fundo na jornada emocional de Nolan/Omni-man (J.K. Simmons). Até agora, ficou claro que ele está de certa forma arrependido pelos crimes que cometeu contra a humanidade no episódio final da primeira temporada. Porém, ele ainda não tem os recursos psicológicos necessários para lidar com esses sentimentos e com a dissonância cognitiva causada por seu arrependimento.
Essa dissonância vem do fato de que ele se sente culpado por fazer exatamente o tipo de coisa que ele foi enviado para fazer na Terra. Se em toda sua vida ele sempre participou das invasões e conquistas promovidas pelos viltrumitas, por que agora ele questiona essa lógica imperialista? Se os viltrumitas são uma raça superior, por que ele se sente culpado por assassinar milhares de humanoides supostamente “inferiores”? Mas a grande pergunta que fica é como a série vai conduzir esse grande arco de redenção (se é que é isso o que vai acontecer).
Quase perfeita, a segunda temporada de Invencível se destaca por trazer ainda mais impressionantes batalhas contra viltrumitas e por aprofundar o lado dramático da trama. Mesmo sem seu lado mais violento e fantasioso, a história se sustentaria apenas com o desenvolvimento de seus personagens. No fim das contas, essa é uma história sobre um jovem que, depois de ter seus sonhos e ilusões destruídos por seu pai, faz o máximo possível para não se tornar igual a ele.