Crítica: Castlevania – Noturno – 1ª Temporada
Castlevania: Nocturne, EUA, 2023
Netflix · Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes
★★★★☆
Assim como Castlevania misturou a Idade Média com elementos de fantasia, Castlevania: Noturno coloca vampiros, demônios e magia na França da Revolução Francesa, em 1792. O grande mérito dessa nova série é estabelecer sua própria identidade, ao invés de simplesmente repetir as tramas e premissas da série original. Há claros sinais de que os realizadores estão tentando fazer algo ainda mais ousado nessa continuação, estabelecendo personagens ainda mais complexos e muitas possibilidades de amadurecimento ao longo das próximas temporadas.
O protagonista Richter Belmont (Edward Bluemel) começa a história bem mais jovem e inexperiente do que seu antepassado Trevor Belmont (Richard Armitage), o que dá aos realizadores a oportunidade de mostrar seu amadurecimento ao longo dos episódios. O mesmo vale para as duas principais personagens que lutam ao seu lado, Maria Renard (Pixie Davis) e Annette (Thuso Mbedu), que também são adolescentes.
Esses personagens são marcados por traumas do passado e do presente, tendo muitas questões para resolverem no futuro. Tanto Richter quanto Annette presenciaram as mortes de suas mães pelas mãos de vampiros quando ainda eram crianças. Julia Belmont (Sophie Skelton) foi uma caçadora de vampiros derrotada por Olrox (Zahn McClarnon), enquanto a mãe de Annette foi assassinada pelo vampiro que as escravizava na ilha de São Domingos. Isso a levou a se unir ao abolicionista Edouard (Sydney James Harcourt), ao lado de quem lutou durante a Revolução Haitiana.
Em Castlevania: Noturno, os vampiros se misturam com a nobreza europeia e com os senhores de escravos do Novo Mundo para impedir as mudanças promovidas pelas revoluções em andamento, especialmente a francesa. Eles também contam com a ajuda do abade Emmanuel (Richard Dormer), um membro do clero que vê o poder da igreja sendo ameaçado pelos ideais revolucionários. Esses e outros grupos contra-revolucionários se unem a uma auto-intitulada “Messias Vampira” para tentar fazer com que as coisas sejam como antes, quando eles estavam no topo das estruturas do poder.
Assim como o Conde Drácula foi inspirado na figura histórica de Vlad Tepes, a Messias Vampira Erzsebet Báthory (Franka Potente) é claramente uma versão fictícia de Isabel Bathory, nobre húngara acusada em 1610 de ser uma serial killer que torturava e matava suas vítimas com requintes de crueldade. O nome da segunda em comando de Erzsebet, Drolta Tzuentes (Elarica Johnson), parece ser inspirado no nome de uma das cúmplices de Isabel, a governanta Dorothea Szentos.
A nova ambientação também permite que religiões de matriz africana, já sincretizadas no Novo Mundo, sejam incluídas no cânone, com os poderes de Annette sendo originados de Ogum e manifestando a presença do Papa Lebá em alguns momentos. Além disso, Olrox parece ser o primeiro vampiro de origem indígena na trama, sendo chamado de “asteca” em determinado ponto.
A combinação da Revolução Francesa com elementos de fantasia já havia sido feita na série La Révolution, mas em Castlevania: Noturno o tema é tratado com ainda mais profundidade. Enquanto alguns personagens questionam o ciclo de violência do qual a Revolução faz parte, também fica claro que Erzsebet conta com o apoio de parte da população mais simples e mais religiosa.
Por outro lado, o idealismo revolucionário da jovem Maria ainda não entrou em contato com os Massacres de Setembro de 1792 e com a fase do Terror durante a Revolução. Talvez esses eventos ainda serão incluídos na trama, ainda que no contexto da chegada de Erzsebet e de seu exército de criaturas da noite.
Para completar, as fantásticas cenas de ação e a ótima qualidade da animação completam uma primeira temporada que, na prática, não depende em nada da trama vivida séculos antes por Trevor, Sypha (Alejandra Reynoso) e Alucard (James Callis). Com personagens que ainda têm muito o que evoluir tanto no uso de seus poderes quanto em seus arcos dramáticos, Castlevania: Noturno tem tudo para superar a primeira adaptação de Castlevania.