Crítica: Pânico VI

Scream VI, EUA, 2023



Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes

★★★★☆


Para o bem ou para o mal, Pânico VI é mais um típico capítulo da franquia Pânico. O espectador que já conhece os filmes anteriores mas que não é exatamente um fã da série pode achar essa nova entrada cansativa e repetitiva. Porém, quem ainda se diverte com a bem-estabelecida fórmula iniciada com o primeiro Pânico (1996) pode se surpreender com a intensidade do suspense e da ação nesse capítulo. Pela segunda vez em menos de um ano e meio (o filme anterior foi lançado em Janeiro de 2022), os diretores Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett conseguem manter a franquia relevante mesmo sem realmente introduzir elementos genuinamente novos.

pânico vi 1A grande novidade deveria ser o fato, revelado no capítulo anterior, de que a protagonista Sam Carpenter (Melissa Barrera) é filha de um dos assassinos do filme original. Porém, essa ascendência e suas “leves” tendências homicidas servem apenas para ajudar a justificá-la como a nova Sidney Prescott (Neve Campbell), tornando-a o novo centro gravitacional da franquia. Nada especialmente relevante é feito com isso, o que é uma oportunidade perdida de realmente repensar a fórmula.

Outro movimento nessa direção é a relação entre Sam e sua irmã Tara (Jenna Ortega), mas esse esforço também não passa do meramente formulaico. É interessante notar que todos os esforços feitos desde o filme anterior conseguem apenas manter a franquia razoavelmente relevante, ao invés de reinventá-la ou, de alguma forma, atualizá-la. Mesmo a transferência da ambientação para a cidade de Nova York não tem o impacto esperado, pois, no fim das contas, a trama de Pânico VI poderia ser ambientada em qualquer outra cidade, inclusive na “clássica” Woodsboro.

Mesmo com todas essas tentativas de inovação no enredo, esse novo filme se destaca mesmo é na ação e na tensão. Alguns dos momentos de perseguição e de enfrentamento com o vilão Ghostface rivalizam não apenas com os melhores momentos da franquia mas também com alguns dos melhores momentos dos filmes slasher em geral. Com praticamente todos os personagens cientes das regras dos filmes de terror e das franquias cinematográficas, os ataques se tornam mais longos e imprevisíveis, exigindo o máximo possível do novo (ou novos) Ghostface.

Além disso, outros atrativos da franquia continuam presentes. Para quem a diversão está em tentar adivinhar quem é o assassino da vez, Pânico VI é um prato cheio. O filme pode inclusive se dar ao luxo de oferecer várias pistas sobre quem é o verdadeiro assassino, pois há tantas pistas falsas sendo passadas juntas que fica impossível isolar uma única possibilidade. Será o novo namorado? Será um dos novos amigos? Será o policial? Ou, dessa vez, será um dos sobreviventes dos capítulos anteriores?

pânico vi 2

A má notícia é que a resolução é bem semelhante à uma resolução utilizada anteriormente na série de filmes, o que a torna um pouco menos interessante. Para piorar, Pânico VI tem um dos piores monólogos explicativos da série, com a “lógica” apresentada pelo assassino exigindo quantidades cavalares de boa vontade por parte do espectador. A coisa toda fica muito insólita muito rápido, nos deixando ansiosos pelo fim da incoerente explicação e pelo início da luta final.

Esse momento nos lembra que as motivações dos assassinos nos filmes anteriores também não faziam muito sentido, com personagens elaborando intricados e violentos planos de vingança pelos motivos mais mundanos ou mesquinhos. Na maioria das vezes, mesmo se os planos deles dessem certo, os ganhos ou vantagens reais que eles teriam seriam mínimos. Uma vez que, na prática, não existe uma lógica realmente aceitável que justifique uma ou mais pessoas partirem em uma violenta série de assassinatos, é compreensível que as explicações dadas por esses filmes geralmente vão na linha do “essas pessoas ficaram doidas e pronto”.

Apesar disso, o roteiro de Pânico VI tem alguns bons momentos quando inclui comentários sobre as notícias falsas e teorias da conspiração que se propagam pela Internet. No início da trama, Sam tem que lidar com o fato de que parte da população acredita que ela é a verdadeira culpada pelos assassinatos ocorridos no filme anterior, chegando a ser atacada na rua por isso. Essa situação lembra tanto a teoria da conspiração sobre o massacre de Sandy Hook quanto os vários casos de linchamento motivados por boatos no Whatsapp (exemplos aqui, aqui e aqui).

Em resumo, o prato principal que Pânico VI tem para oferecer é uma experiência mais intensa e brutal para os fãs da franquia. A falta de lógica na resolução é um problema menor diante dos vários momentos intensos e memoráveis que fazem o espectador prender a respiração. Com duas ótimas final girls em Melissa Barrera e Jenna Ortega, é bem provável que a franquia ainda terá mais algumas oportunidades de tecer comentários metalinguísticos sobre a própria franquia enquanto novos e antigos personagens são brutalmente assassinados.