Crítica: Homem-Formiga e a Vespa – Quantumania
Ant-Man and the Wasp: Quantumania, EUA, 2023
Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes
★★★★☆
Rapidamente e sem aviso prévio, Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania adota uma das premissas mais batidas e previsíveis das aventuras de fantasia e ficção científica: nossos heróis vão parar em um “reino” desconhecido e precisam ajudar a população local a lutar contra um terrível tirano. Porém, mesmo em meio a um festival de obviedades, ainda há um envolvente e divertido filme do Homem-Formiga nessa produção, com momentos que conseguem elevar o perfil de todos os personagens centrais. Além disso, a introdução do épico vilão Kang (Jonathan Majors) ajuda a contrabalançar os elementos menos interessantes da história.
Ainda que a trama dos excêntricos “revolucionários” do Reino Quântico sirva apenas como pano de fundo para que a família do Homem-Formiga/Scott Lang (Paul Rudd) e da Vespa/Hope Van Dyne (Evangeline Lilly) viva uma grande aventura, esse “pano de fundo” poderia ser bem mais inspirado e menos semelhante ao que foi feito em Thor: Ragnarok. Aqui, nenhum dos membros dessa revolução tem o carisma de um Korg (Taika Waititi) para amenizar o lado mais maçante dessa premissa. O filme tenta fazer algo assim com MODOK (Corey Stoll), mas o resultado é bem inconsistente.
Um outro centro dramático de Quantumania é a relação de Scott com sua filha Cassie Lang (Kathryn Newton), resultando em uma subtrama razoavelmente interessante e boa o suficiente para ancorar parte da história. Mas é com as presenças de Hank Pym (Michael Douglas) e principalmente Janet Van Dyne (Michelle Pfeiffer) que o filme começa a se redimir. Enquanto Pym mais uma vez nos mostra que ainda é capaz de feitos incríveis, Janet finalmente tem todo o desenvolvimento que ela não pôde ter nos filmes anteriores. A dupla faz o espectador imaginar como seria ver o Homem-Formiga e a Vespa originais em toda sua grandiosidade.
Dramaticamente, os flashbacks que mostram a relação entre Janet e Kang quando ela ainda estava presa no Reino Quântico são os pontos altos da produção, evidenciado a vulnerabilidade e a camaradagem entre duas pessoas impossibilitadas de voltarem para seus lares. Nesses momentos, todos os talentos de Majors e Pfeiffer fazem a diferença e elevam de forma surpreendente o nível da trama. É graças a eles que as grandes revelações e que as grandes traições realmente carregam um peso dramático em Quantumania.
Kang, que é muito bem desenvolvido, é uma vilão digno para a nova fase do MCU e Jonathan Majors é a pessoa ideal para interpretá-lo. Essa introdução só peca por ser muito dependente de grandes monólogos para apresentar o personagem, com Kang passando boa parte do ato final explicando o que ele já fez e o que ele pretende fazer. Ainda assim, essa é uma introdução memorável.
Além de já ter viajado pelo Multiverso e de já estar acostumado a eliminar Vingadores, Kang é um vilão que conhece a derrota e se mostra incrivelmente resiliente. Apenas em Quantumania, podemos vê-lo se reerguendo em duas ocasiões diferentes, sempre mais impiedoso do que antes. A batalha final entre ele e o Homem-Formiga não se destaca por ser uma grande cena de ação, mas sim por ser uma das lutas mais intensas e brutais do MCU.
Diante de tudo isso, é difícil entender como o MCU consegue ser tão inconstante. Olhando de fora, temos a impressão de que deveria ser fácil para Kevin Feige e seus roteiristas saberem o que funciona e o que não funciona nessa longa franquia. Ainda assim, nesse único filme há grandes momentos de drama e tensão ao lado de momentos que vão fazer o espectador revirar os olhos ou cair no sono. Se continuar assim, essa série de filmes vai seguir o caminho de muitas séries de quadrinhos, perdendo quase que completamente o interesse do público.
Dito isso, Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania ainda cumpre muito bem o seu papel como entretenimento de fantasia e como novo capítulo dessa épica saga. Apesar de suas limitações, a produção chega a superar Homem-Formiga e a Vespa, aventura anterior dos personagens título. Aqui, os riscos são maiores e as emoções são mais intensas, resultando em alguns dos melhores momentos do Homem-Formiga e da Vespa nas telas do cinema.