Crítica: O Soldado que Não Existiu

Operation Mincemeat, Reino Unido/EUA, 2022



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★★★★☆


O valor de O Soldado que Não Existiu está muito mais em seu lado histórico do que na dramatização em si. A história da Operação Carne Moída (no original, Operation Mincemeat) é ainda hoje impressionante, tanto pela ousadia quanto pelo fato de ter sido bem-sucedida. Desde os anos 1950, essa operação tem inspirado livros, novelas de rádio, filmes, peças teatrais, programas de televisão e até uma música, resultante de uma parceria entre Rick Springfield e Dave Grohl. Diante disso, o filme ajuda a garantir que a história do “homem que nunca existiu” não seja esquecida tão cedo.

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O soldado do título é o major da marinha britânica William Martin, cujo corpo foi encontrado na costa da Espanha em 30 de abril de 1943. Com ele, foi encontrada uma maleta com documentos que indicavam que as forças Aliadas começariam sua invasão da Europa pela Grécia, e não pelo óbvio ponto de entrada da Sicília. Uma vez que a Espanha Franquista estava alinhada com a Alemanha Nazista, os documentos passaram pelas mãos de agentes da inteligência alemã antes de serem devidamente devolvidos ao governo britânico. As cópias feitas foram enviadas para a Alemanha e analisadas pelo alto escalão do regime nazista.

Porém, o major William Martin não era nada mais do que um personagem criado pelos agentes da inteligência britânica Ewen Montagu (Colin Firth) e Charles Cholmondeley (Matthew Macfadyen). O corpo encontrado na costa da Espanha pertencia a Glyndwr Michael (Lorne MacFadyen), um sem-teto que havia morrido em Londres depois de ingerir um raticida. No jargão da espionagem, William Martin foi uma “lenda”, criada com o intuito de passar informações falsas para a inteligência alemã.

Para torná-lo realista e acreditável, os agentes encheram os bolsos do cadáver com inúmeros detalhes sobre a vida pessoal de Martin, incluindo cartas de amor e uma foto de sua fictícia namorada, Pam. Na realidade, a foto pertencia a Jean Leslie (Kelly Macdonald), uma funcionária da inteligência britânica. No filme, ela é mostrada como uma das participantes do plano, ajudando Montagu e Cholmondeley a criar a história do major Martin. Na vida real, a participação da jovem de 19 anos de idade se resumiu ao fornecimento da foto.

Esse é apenas um dos detalhes que O Soldado que Não Existiu apresenta de forma mais dramática do que a realidade. O desenvolvimento da narrativa é preenchido com momentos dramáticos, tensões pessoais e um quase triângulo amoroso entre Leslie, Montagu e Cholmondeley. Provavelmente, a ideia era tornar a história de espionagem mais humana e menos maçante, mas isso acaba não dando muito certo. Além da previsibilidade, fica claro que o lado dramático foi apenas uma camada adicionada para tornar a história mais palatável.

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Ainda assim, esse lado dramático consegue dar um certo ar poético à trama, mostrando como esses manipuladores espiões começam a manipular e a espionar uns aos outros, além de projetarem seus próprios anseios na personalidade criada para Martin. Se tivesse ido ainda mais fundo nesse aspecto, talvez O Soldado que Não Existiu conseguiria elevar ainda mais o material. Um exemplo de como uma dramatização altamente ficcionalizada pode fazer isso está no filme A Escavação, nos quais os dramas fictícios reverberam com as reflexões levantadas por uma descoberta arqueológica.

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O Soldado que Não Existiu também brinca com a presença do escritor Ian Fleming (Johnny Flynn), tentando imaginar como as coisas que ele aprendeu durante a Operação Carne Moída podem ter influenciado a criação do icônico personagem James Bond. Fleming era assistente do contra-almirante John Godfrey (Jason Isaacs) e, apesar de não ter participado diretamente da operação, pode ter sido um de seus idealizadores. Ele é o provável autor do chamado “Memorando da Truta”, que foi publicado com a assinatura de Godfrey. O documento comparava as práticas de desinformação a uma pesca de trutas, além de listar 54 ideias de como enganar os inimigos. Uma delas era justamente a de abandonar um corpo com documentos falsos em águas inimigas.

Filmes como As Espiãs de Churchill e O Jogo da Imitação podem servir como complemento para O Soldado que Não Existiu, pois mostram outros esforços de espionagem dos britânicos durante a Segunda Guerra Mundial. No mais, esse é um filme muito mais indicado para quem estiver interessado em História do que para quem estiver interessado em grandes e memoráveis dramas de guerra. Felizmente, a história real é incrível o suficiente para garantir a produção.